REVISÃO DE PRONOME RELATIVO
Pronome relativo é uma
classe de pronomes que substituem um termo da oração anterior e estabelece
relação entre duas orações.
Não conhecemos o aluno. O aluno saiu. Não conhecemos o aluno que saiu. Como se pode perceber, o que, nessa frase está substituindo o termo aluno e está relacionando a segunda oração com a primeira. Os pronomes relativos são os seguintes: Variáveis
O qual, a qual
Os quais, as quais Cujo, cuja Cujos, cujas Quanto, quanta Quantos, quantas Invariáveis
Que (quando equivale a o qual e flexões)
Quem (quando equivale a o qual e flexões) Onde (quando equivale a no qual e flexões) Emprego dos pronomes relativos 1. Os pronomes relativos virão precedidos de preposição se a regência assim determinar.
preposição
pronome termo regente
exigida relativo pelo verbo
2. O pronome relativo quem se refere
a uma pessoa ou a uma coisa personificada.
Não conheço a médica de quem você falou. Esse é o livro a quem prezo como companheiro. 3. Quando o relativo quem aparecer sem antecedente claro é classificado como pronome relativo indefinido. Quem atravessou, foi multado. 4. Quando possuir antecedente, o pronome relativo quem virá precedido de preposição. João era o filho a quem ele amava. 5. O pronome relativo que é o de mais largo emprego, chamado derelativo universal, pode ser empregado com referência a pessoa sou coisas, no singular ou no plural. Conheço bem a moça que saiu. Não gostei do vestido que comprei. Eis os instrumentos de que necessitamos. 6. O pronome relativo que pode ter por antecedente o demonstrativo o (a, os, as). Sei o que digo. (o pronome o equivale a aquilo) 7. Quando precedido de preposição monossilábica, emprega-se o pronome relativo que. Com preposições de mais de uma sílaba, usa-se o relativo o qual (e flexões). Aquele é o machado com que trabalho. Aquele é o empresário para o qual trabalho. 8. O pronome relativo cujo (e flexões) é relativo possessivo equivale a do qual, de que, de quem. Deve concordar com a coisa possuída. Cortaram as árvores cujos troncos estavam podres. 9. O pronome relativo quanto, quantos e quantas são pronomes relativos quando seguem os pronomes indefinidos tudo, todos ou todas. Recolheu tudo quanto viu. 10. O relativo onde deve ser usado para indicar lugar e tem sentido aproximado de em que, no qual. Esta é a terra onde habito. a) onde é empregado com verbos que não dão ideia de movimento. Pode ser usado sem antecedente. Nunca mais morei na cidade onde nasci. b) aonde é empregado com verbos que dão ideia de movimento e equivale a para onde, sendo resultado da combinação da preposição a + onde. As crianças estavam perdidas, sem saber aonde ir. |
REVISÃO 9º ANO - ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS
REVISÃO- 9º ANO ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS
Orações subordinadas substantivas:
1) Oração subordinada substantiva subjetiva: funciona como sujeito da Oração Principal.
Exemplo: Convém / que economizemos nos próximos meses.
1) Oração principal
2) Oração subordinada substantiva subjetiva
É importante perceber que, nesse caso, não há sujeito na oração principal.
2) Oração subordinada substantiva objetiva direta: funciona como objeto direto do verbo da Oração Principal, portanto, temos aí um VTD (verbo transitivo direto, que é aquele que precisa de um completo sem preposição. A pergunta que fazemos para o VTD é "o que?").
Exemplo: Muitos economistas previram / que o desempenho aumentaria.
1) Oração principal
2) Oração subordinada substantiva objetiva direta
Perceba que temos sujeito e um VTD na oração principal.
3) Oração subordinada substantiva objetiva indireta: funciona como objeto indireto do verbo da Oração Principal.
Exemplo: Ninguém discorda / de que a proteção à natureza é essencial à vida.
1) Oração principal
2) Oração subordinada substantiva objetiva indireta
Fique atento para o fato de que, na oração principal, temos sujeito e um VTI (verbo transitivo indireto, que é aquele que precisa de um completo iniciado por preposição).
4) Oração subordinada substantiva predicativa: funciona como predicativo do sujeito da Oração Principal.
Exemplo: Nossa maior preocupação era / que chovesse.
1) Oração principal
2) Oração subordinada substantiva predicativa
Note que, na oração principal, temos um sujeito e um VL (verbo de ligação).
5) Oração subordinada substantiva completiva nominal: funciona como complemento nominal de um nome da Oração Principal.
Exemplo: A professora estava certa / de que vocês estudariam.
1) Oração principal
2) Oração subordinada substantiva completiva nominal
Fique atento para as características da oração principal! Nela há sujeito + VL + nome.
6) Oração subordinada substantiva apositiva: funciona como aposto de um nome da Oração Principal.
Exemplo: Todos defendiam esta ideia: / que o prédio fosse desapropriado.
1) Oração principal
2) Oração subordinada substantiva apositiva
Lembre-se da definição de aposto: "é a palavra ou expressão que explica ou que se relaciona com um termo anterior, para esclarecê-lo, explicá-lo ou deixá-lo mais detalhado".
Saiba também que, geralmente, a oração subordinada substantiva apositiva é precedida por dois pontos.
1) Oração subordinada substantiva subjetiva: funciona como sujeito da Oração Principal.
Exemplo: Convém / que economizemos nos próximos meses.
1) Oração principal
2) Oração subordinada substantiva subjetiva
É importante perceber que, nesse caso, não há sujeito na oração principal.
2) Oração subordinada substantiva objetiva direta: funciona como objeto direto do verbo da Oração Principal, portanto, temos aí um VTD (verbo transitivo direto, que é aquele que precisa de um completo sem preposição. A pergunta que fazemos para o VTD é "o que?").
Exemplo: Muitos economistas previram / que o desempenho aumentaria.
1) Oração principal
2) Oração subordinada substantiva objetiva direta
Perceba que temos sujeito e um VTD na oração principal.
3) Oração subordinada substantiva objetiva indireta: funciona como objeto indireto do verbo da Oração Principal.
Exemplo: Ninguém discorda / de que a proteção à natureza é essencial à vida.
1) Oração principal
2) Oração subordinada substantiva objetiva indireta
Fique atento para o fato de que, na oração principal, temos sujeito e um VTI (verbo transitivo indireto, que é aquele que precisa de um completo iniciado por preposição).
4) Oração subordinada substantiva predicativa: funciona como predicativo do sujeito da Oração Principal.
Exemplo: Nossa maior preocupação era / que chovesse.
1) Oração principal
2) Oração subordinada substantiva predicativa
Note que, na oração principal, temos um sujeito e um VL (verbo de ligação).
5) Oração subordinada substantiva completiva nominal: funciona como complemento nominal de um nome da Oração Principal.
Exemplo: A professora estava certa / de que vocês estudariam.
1) Oração principal
2) Oração subordinada substantiva completiva nominal
Fique atento para as características da oração principal! Nela há sujeito + VL + nome.
6) Oração subordinada substantiva apositiva: funciona como aposto de um nome da Oração Principal.
Exemplo: Todos defendiam esta ideia: / que o prédio fosse desapropriado.
1) Oração principal
2) Oração subordinada substantiva apositiva
Lembre-se da definição de aposto: "é a palavra ou expressão que explica ou que se relaciona com um termo anterior, para esclarecê-lo, explicá-lo ou deixá-lo mais detalhado".
Saiba também que, geralmente, a oração subordinada substantiva apositiva é precedida por dois pontos.
Iracema, de José de Alencar - Análise da obra
Iracema, de José de Alencar
Análise
Em Iracema (1865) José de Alencar, ou por ter atingido a maturidade nos temas indianistas, ou porque nessa obra não há a rigor nenhum compromisso com uma afirmação nacional pela literatura, atinge seu romance mais bem estruturado, sob o ponto de vista estético.Iracema é o exemplar mais perfeito de prosa poética de nossa ficção romântica, belíssimo exemplo do nacionalismo ufanista e indianista, com o qual Alencar contribuiu com a construção da literatura e da cultura brasileira.
No romance há um argumento histórico: a colonização do Ceará, que se deu em 1606. Nele há a presença de personagens históricos: Martim Soares Moreno, o colonizador português que se aliou aos índios Pitiguaras e Poti, Antônio Felipe Camarão. Através do romance entre Iracema e Martim, José de Alencar romantizou o processo de colonização do Ceará, simbolicamente representativo do processo de colonização do Brasil. Iracema apresenta uma espécie de conciliação entre o branco e o índio, na medida em que romantiza a dominação de um povo pelo outro. Desta forma insere nos códigos artísticos do Romantismo europeu a temática do processo de colonização do país. Com a obra se inaugura o mito heróico da pátria, de natureza indianista.
Portanto, o espaço da obra é o Estado do Ceará e o tempo é o início do século XVII.
O relacionamento amoroso entre Iracema e Martim pode ser interpretado, simbolicamente, como metáfora, como alegoria representativa do cruzamento das raças indígena e branca, ou seja, o nativo e o europeu colonizador. O desenvolvimento do enredo - ruptura de Iracema com o compromisso de virgem vestal e com sua tribo, sua entrega amorosa, seu abandono e sua morte, deixando o filho Moacir, "aquele que nasce da dor", - todos esses elementos da trama narrativa confirmam a possibilidade de leitura simbólica. A própria construção do personagem Iracema é feita a partir da natureza, de comparações com elementos da fauna e da flora americana , em geral brasileira e mais especificamente do Ceará.
A índia Iracema, que se entrega por amor a Martim, tem a função de simbolizar, no romance, a presença do elemento nacional, da cor local, existente na criação de seus traços físicos, que é feita por comparação com elementos da natureza. Embora psicologicamente Iracema se assemelhe às heroínas românticas europeias, constitui, nessa fusão de elementos da cor local com elementos do romantismo europeu, um mito fundador da pátria. De acordo com o romantismo europeu, Iracema pode ser caracterizada como um exemplo de "mulher-anjo" - virgem, delicada, bela, capaz de se sacrificar pelo homem que ama, Martim. Essa característica de Iracema mostra que embora o narrador privilegie os seus sentimentos e pensamentos ao longo da história, idealizando o índio, que ela representa, o seu ponto de vista ao contar torna-se o do branco colonizador, na medida em que "europeiza" e "romantiza" Iracema.
Quanto à importância relativa das personagens, Alencar constrói uma obra inteiramente distinta de O Guarani (e também do posterior Ubirajara, que data de 1874). Em Iracema, a relação amorosa entre a jovem índia e o fidalgo português Martim domina toda a obra.
Não é difícil encontrar as fontes principais em que se inspirou Alencar: Iracema é, num certo sentido (não o da imitação, evidentemente), a transposição de Atala, de Chateaubriand, autor que Alencar confessou ter lido bastante. Temos, pois, o caso de uma composição homóloga, pois apresenta vários pontos em comum: o tema da felicidade primitiva dos selvagens, que começa a se corromper diante da primeira aproximação do civilizado; a idéia do bom selvagem; o amor de uma índia por um estrangeiro; a morte das duas heroínas, o exótico da paisagem; enfim, nas duas obras de um conflito fundamental representado pela oposição de índole dos dois mundos: o da velha civilização européia e o Novo Mundo da América.
O romance, na definição de Machado de Assis, é uma "poema em prosa", é um poema épico-lirico (para Machado de Assis, é um poema essencialmente lírico).
Elementos épicos
- Presença do "maravilhoso" nas epopéias e em Iracema.
O texto é épico por ser narrativo. José de Alencar narra os feitos heróicos dos portugueses na figura de Martim. Iracema, também, é transformada em heroína. O vinho de Tupã que permite a posse de Iracema (presença do "maravilhoso"). Além disso, temos, também, a presença dos deuses indígenas representando as forças da natureza.
Elementos líricos
O amor de Iracema por Martim: Iracema é a heroína típica do romantismo, que padece de saudades do amante, que partiu, e da pátria que deixou. Ela se enquadra dentro de uma corrente luso-brasileira cujo inicio data das cantigas medievais.
Toda a força poética do livro advém dessa relação amorosa. A ação é reduzidíssima, o que dá ao livro o notável espaço lírico de que se valeu Alencar para escrever sua obra mais poética: a desorientação inicial de Martim, jovem fidalgo português, que se perdera nas matas... O surpreendente encontro com a jovem índia... A hospitalidade do selvagem brasileiro... O ciúme do guerreiro... O amor entre os representantes das duas raças: lracema e Martim... A morada dos dois, afastados da tribo e da civilização... A nostalgia de Martim por sua terra natal, suas viagens e a tristeza de Iracema com a mudança inesperada de seu amado... O nascimento de Moacir, filho da dor, e a morte de Iracema... Essa é praticamente a síntese da fábula do livro.
Foco narrativo
A obra é escrita em terceira pessoa, temos um narrador-observador, isto é, um narrador que caracteriza as personagens apenas a partir do que pode observar de seus sentimentos e de seu comportamento, como se percebe no trecho: "O sentimento que ele (Martim) pôs nos olhos e no rosto não o sei eu. Porém a virgem lançou de si o arco e a uiraçaba, e correu para o guerreiro, sentida da mágoa que causara." (Capítulo 2), especialmente no momento em que o narrador coloca em dúvida a reação emocional de Martim, flechado por Iracema. O narrador conta a história do ponto de vista de Iracema, isto é, do índio, privilegiando os seus sentimentos e não os de Martim, que representa o branco colonizador.
Personagens
Iracema – (lábios de mel) – índia da tribo dos tabajaras, filha de Araquém, velho pajé; era uma espécie de vestal (no sentido de ter a sua virgindade consagrada à divindade) por guardar o segredo de Jurema (bebida mágica utilizada nos rituais religiosos); anagrama de América. Forte, sedutora, mas submissa. Heroína trágica.
Martim Soares Moreno – guerreiro branco, colonizador europeu, amigo dos pitiguaras, habitantes do litoral, adversários dos tabajaras; os pitiguaras lhe deram o nome de Coatiabo ("guerreiro pintado" - "tinha nas faces o branco das areias, nos olhos o azul triste das águas e os cabelos da cor do sol."
Moacir - Filho de Iracema e Martim, filho do sofrimento (Moaci = dor, ira = saído de).
Poti – herói dos pitiguaras, amigo – que se considerava irmão – de Martim. Personagem histórico.
Irapuã - chefe dos tabajaras; apaixonado por Iracema. Ciumento e corajoso. Seu nome significa "mel redondo".
Caubi – índio tabajara, irmão de Iracema. Não guardou rancor de Iracema, indo visitá-la no exílio.
Jacaúna – chefe dos pitiguaras, irmão de Poti. Seu nome significa "jacarandá preto".
Valor simbólico do personagem Moacir
Moacir simboliza o primeiro brasileiro nascido da miscigenação índio X português. Duas vezes filho da dor de Iracema: dela nascido e, também, dela nutrido. Tal mescla de vida e morte, de dor e de alegria, acha-se tematizada pelo leite branco, ainda rubro do sangue de que se formou.
Enredo
Durante uma caçada, Martim Soares Moreno, personagem histórico responsável pela colonização do Ceará, se perdeu dos companheiros pitiguaras e se pôs a caminhar sem rumo durante três dias.
No interior das matas pertencentes à tribo dos tabajaras, encontra-se com Iracema, filha do pajé Araquém, da tribo dos Tabajaras, "os senhores das montanhas".
Ao deparar-se com Martim, surpresa e amedrontada, a índia o fere no rosto com uma flechada. Ele não reagiu. Arrependida, a moça correu até Martim e ofereceu-lhe hospitalidade, quebrando com ele a flecha da paz. Martim, por quem Iracema se apaixona, vai visitar a sua tribo. Lá encontra Irapuã, o chefe, um rival. Entretanto, o duelo entre ambos é interrompido pelo grito de guerra dos Pitiguaras, "os senhores do litoral", liderados por Poti (Antônio Felipe Camarão, personagem histórico), amigo de Martim.
Nas entranhas da terra, magicamente abertas por Araquém, Iracema esconde-se com Martim e torna-se sua esposa, traindo o compromisso de virgem vestal, sacerdotisa da tribo e portadora do segredo da jurema, o segredo da fertilidade dos Tabajaras.
Durante o sono da tribo propiciado por Iracema, que a leva aos bosques da Jurema, onde os guerreiros podem sonhar vitórias futuras, há o reencontro entre Martim e Poti, que fogem guiados por Iracema. Ela não revela a Martim o que houve entre ambos o himeneu, enquanto o jovem iniciava-se nos mistérios de Jurema, só o fazendo depois da fuga.
Irapuã encontra os fugitivos, trava-se um combate entre os Tabajaras e os melhores Pitiguaras, conduzidos por Jacaúva, irmão de Poti. Nesse combate, Iracema pede a Martim que não mate Caubi ("o senhor dos caminhos"), seu irmão, e por duas vezes salva a vida do estrangeiro. Os Tabajaras debandam, deixando Iracema triste e envergonhada.
Iracema, Martim e Poti chegam ao território Pitiguara, de onde viajam para visitar Batuirité, o avô de Poti, o qual denomina Martim Gavião Branco, fazendo, antes de morrer, a profecia da destruição de seu povo pelos brancos.
Iracema engravida e, acompanhada de Poti, pinta o corpo de Martim, que passa a ser Coatiabo, "o guerreiro pintado", que às vezes tem momentos de grande melancolia, com saudades da pátria.
Um mensageiro Pitiguara leva a Poti um recado de Jacaúna, contando sobre a aliança entre os franceses e os Tabajaras. Poti e Martim partem para a guerra; Iracema fica no litoral, em companhia de uma seta envolvida em um galho de maracujá (a lembrança). Triste, recebe a visita de Jandaia, antiga companheira e trona-se como ela, "mecejana" (a abandonada).
Martim e Poti voltam vitoriosos; Martim sente mais saudades da pátria; Iracema profetiza a própria morte que ocorrerá com o nascimento do filho. Enquanto Martim estava combatendo, Iracema teve sozinha o filho, a quem chamou de Moacir, filho da dor. Certa manhã, ao acordar, ela viu à sua frente o irmão Caubi, que, saudoso, vinha visitá-la, trazendo paz. Admirou a criança, porém surpreendeu-se com a tristeza da irmã, que pediu a ele que voltasse para junto de Araquém, velho e sozinho.
De tanto chorar, Iracema perdeu o leite para alimentar o filho. Foi à mata e deu de mamar a alguns cachorrinhos; eles lhe sugaram o peito e dele arrancaram o leite copioso para voltar a amamentar. A criança estava se nutrindo, mas a mãe perdera o apetite e as forças, por causa da tristeza.
No caminho de volta, findo o combate, Martim, ao lado de Poti, vinha apreensivo: como estaria Iracema? E o filho? Lá estava ela, à porta da cabana, no limite extremo da debilidade. Ela só teve forças para erguer o filho e apresentá-lo ao pai. Em seguida, desfaleceu e não mais se levantou da rede.
Morre Iracema. Suas últimas palavras foram o pedido ao marido de que a enterrasse ao pé do coqueiro de que ela gostava tanto. O sofrimento de Martim foi enorme, principalmente porque seu grande amor pela esposa retornara revigorado pela paternidade. O lugar onde se enterrou Iracema veio a se chamar Ceará.
Martim retornou para sua terra, Portugal, levando o filho. Não consegue permanecer lá. Quatro anos depois, eles voltaram para o Ceará, onde Martim implantou a fé cristã. Poti se tornou cristão e continuou fiel amigo de Martim. Os dois ajudaram o comandante Jerônimo de Albuquerque a vencer os tupinambás e a expulsar o branco tapuia. De vez em quando, Martim revia o local onde fora tão feliz e se doía de saudade. A jandaia permanecia cantando no coqueiro, ao pé do qual Iracema fora enterrada. Mas a ave não repetia mais o nome de Iracema. "Tudo passa sobre a terra."
Em Iracema (1865) José de Alencar, ou por ter atingido a maturidade nos temas indianistas, ou porque nessa obra não há a rigor nenhum compromisso com uma afirmação nacional pela literatura, atinge seu romance mais bem estruturado, sob o ponto de vista estético.Iracema é o exemplar mais perfeito de prosa poética de nossa ficção romântica, belíssimo exemplo do nacionalismo ufanista e indianista, com o qual Alencar contribuiu com a construção da literatura e da cultura brasileira.
No romance há um argumento histórico: a colonização do Ceará, que se deu em 1606. Nele há a presença de personagens históricos: Martim Soares Moreno, o colonizador português que se aliou aos índios Pitiguaras e Poti, Antônio Felipe Camarão. Através do romance entre Iracema e Martim, José de Alencar romantizou o processo de colonização do Ceará, simbolicamente representativo do processo de colonização do Brasil. Iracema apresenta uma espécie de conciliação entre o branco e o índio, na medida em que romantiza a dominação de um povo pelo outro. Desta forma insere nos códigos artísticos do Romantismo europeu a temática do processo de colonização do país. Com a obra se inaugura o mito heróico da pátria, de natureza indianista.
Portanto, o espaço da obra é o Estado do Ceará e o tempo é o início do século XVII.
O relacionamento amoroso entre Iracema e Martim pode ser interpretado, simbolicamente, como metáfora, como alegoria representativa do cruzamento das raças indígena e branca, ou seja, o nativo e o europeu colonizador. O desenvolvimento do enredo - ruptura de Iracema com o compromisso de virgem vestal e com sua tribo, sua entrega amorosa, seu abandono e sua morte, deixando o filho Moacir, "aquele que nasce da dor", - todos esses elementos da trama narrativa confirmam a possibilidade de leitura simbólica. A própria construção do personagem Iracema é feita a partir da natureza, de comparações com elementos da fauna e da flora americana , em geral brasileira e mais especificamente do Ceará.
A índia Iracema, que se entrega por amor a Martim, tem a função de simbolizar, no romance, a presença do elemento nacional, da cor local, existente na criação de seus traços físicos, que é feita por comparação com elementos da natureza. Embora psicologicamente Iracema se assemelhe às heroínas românticas europeias, constitui, nessa fusão de elementos da cor local com elementos do romantismo europeu, um mito fundador da pátria. De acordo com o romantismo europeu, Iracema pode ser caracterizada como um exemplo de "mulher-anjo" - virgem, delicada, bela, capaz de se sacrificar pelo homem que ama, Martim. Essa característica de Iracema mostra que embora o narrador privilegie os seus sentimentos e pensamentos ao longo da história, idealizando o índio, que ela representa, o seu ponto de vista ao contar torna-se o do branco colonizador, na medida em que "europeiza" e "romantiza" Iracema.
Quanto à importância relativa das personagens, Alencar constrói uma obra inteiramente distinta de O Guarani (e também do posterior Ubirajara, que data de 1874). Em Iracema, a relação amorosa entre a jovem índia e o fidalgo português Martim domina toda a obra.
Não é difícil encontrar as fontes principais em que se inspirou Alencar: Iracema é, num certo sentido (não o da imitação, evidentemente), a transposição de Atala, de Chateaubriand, autor que Alencar confessou ter lido bastante. Temos, pois, o caso de uma composição homóloga, pois apresenta vários pontos em comum: o tema da felicidade primitiva dos selvagens, que começa a se corromper diante da primeira aproximação do civilizado; a idéia do bom selvagem; o amor de uma índia por um estrangeiro; a morte das duas heroínas, o exótico da paisagem; enfim, nas duas obras de um conflito fundamental representado pela oposição de índole dos dois mundos: o da velha civilização européia e o Novo Mundo da América.
O romance, na definição de Machado de Assis, é uma "poema em prosa", é um poema épico-lirico (para Machado de Assis, é um poema essencialmente lírico).
Elementos épicos
- Presença do "maravilhoso" nas epopéias e em Iracema.
O texto é épico por ser narrativo. José de Alencar narra os feitos heróicos dos portugueses na figura de Martim. Iracema, também, é transformada em heroína. O vinho de Tupã que permite a posse de Iracema (presença do "maravilhoso"). Além disso, temos, também, a presença dos deuses indígenas representando as forças da natureza.
Elementos líricos
O amor de Iracema por Martim: Iracema é a heroína típica do romantismo, que padece de saudades do amante, que partiu, e da pátria que deixou. Ela se enquadra dentro de uma corrente luso-brasileira cujo inicio data das cantigas medievais.
Toda a força poética do livro advém dessa relação amorosa. A ação é reduzidíssima, o que dá ao livro o notável espaço lírico de que se valeu Alencar para escrever sua obra mais poética: a desorientação inicial de Martim, jovem fidalgo português, que se perdera nas matas... O surpreendente encontro com a jovem índia... A hospitalidade do selvagem brasileiro... O ciúme do guerreiro... O amor entre os representantes das duas raças: lracema e Martim... A morada dos dois, afastados da tribo e da civilização... A nostalgia de Martim por sua terra natal, suas viagens e a tristeza de Iracema com a mudança inesperada de seu amado... O nascimento de Moacir, filho da dor, e a morte de Iracema... Essa é praticamente a síntese da fábula do livro.
Foco narrativo
A obra é escrita em terceira pessoa, temos um narrador-observador, isto é, um narrador que caracteriza as personagens apenas a partir do que pode observar de seus sentimentos e de seu comportamento, como se percebe no trecho: "O sentimento que ele (Martim) pôs nos olhos e no rosto não o sei eu. Porém a virgem lançou de si o arco e a uiraçaba, e correu para o guerreiro, sentida da mágoa que causara." (Capítulo 2), especialmente no momento em que o narrador coloca em dúvida a reação emocional de Martim, flechado por Iracema. O narrador conta a história do ponto de vista de Iracema, isto é, do índio, privilegiando os seus sentimentos e não os de Martim, que representa o branco colonizador.
Personagens
Iracema – (lábios de mel) – índia da tribo dos tabajaras, filha de Araquém, velho pajé; era uma espécie de vestal (no sentido de ter a sua virgindade consagrada à divindade) por guardar o segredo de Jurema (bebida mágica utilizada nos rituais religiosos); anagrama de América. Forte, sedutora, mas submissa. Heroína trágica.
Martim Soares Moreno – guerreiro branco, colonizador europeu, amigo dos pitiguaras, habitantes do litoral, adversários dos tabajaras; os pitiguaras lhe deram o nome de Coatiabo ("guerreiro pintado" - "tinha nas faces o branco das areias, nos olhos o azul triste das águas e os cabelos da cor do sol."
Moacir - Filho de Iracema e Martim, filho do sofrimento (Moaci = dor, ira = saído de).
Poti – herói dos pitiguaras, amigo – que se considerava irmão – de Martim. Personagem histórico.
Irapuã - chefe dos tabajaras; apaixonado por Iracema. Ciumento e corajoso. Seu nome significa "mel redondo".
Caubi – índio tabajara, irmão de Iracema. Não guardou rancor de Iracema, indo visitá-la no exílio.
Jacaúna – chefe dos pitiguaras, irmão de Poti. Seu nome significa "jacarandá preto".
Valor simbólico do personagem Moacir
Moacir simboliza o primeiro brasileiro nascido da miscigenação índio X português. Duas vezes filho da dor de Iracema: dela nascido e, também, dela nutrido. Tal mescla de vida e morte, de dor e de alegria, acha-se tematizada pelo leite branco, ainda rubro do sangue de que se formou.
Enredo
Durante uma caçada, Martim Soares Moreno, personagem histórico responsável pela colonização do Ceará, se perdeu dos companheiros pitiguaras e se pôs a caminhar sem rumo durante três dias.
No interior das matas pertencentes à tribo dos tabajaras, encontra-se com Iracema, filha do pajé Araquém, da tribo dos Tabajaras, "os senhores das montanhas".
Ao deparar-se com Martim, surpresa e amedrontada, a índia o fere no rosto com uma flechada. Ele não reagiu. Arrependida, a moça correu até Martim e ofereceu-lhe hospitalidade, quebrando com ele a flecha da paz. Martim, por quem Iracema se apaixona, vai visitar a sua tribo. Lá encontra Irapuã, o chefe, um rival. Entretanto, o duelo entre ambos é interrompido pelo grito de guerra dos Pitiguaras, "os senhores do litoral", liderados por Poti (Antônio Felipe Camarão, personagem histórico), amigo de Martim.
Nas entranhas da terra, magicamente abertas por Araquém, Iracema esconde-se com Martim e torna-se sua esposa, traindo o compromisso de virgem vestal, sacerdotisa da tribo e portadora do segredo da jurema, o segredo da fertilidade dos Tabajaras.
Durante o sono da tribo propiciado por Iracema, que a leva aos bosques da Jurema, onde os guerreiros podem sonhar vitórias futuras, há o reencontro entre Martim e Poti, que fogem guiados por Iracema. Ela não revela a Martim o que houve entre ambos o himeneu, enquanto o jovem iniciava-se nos mistérios de Jurema, só o fazendo depois da fuga.
Irapuã encontra os fugitivos, trava-se um combate entre os Tabajaras e os melhores Pitiguaras, conduzidos por Jacaúva, irmão de Poti. Nesse combate, Iracema pede a Martim que não mate Caubi ("o senhor dos caminhos"), seu irmão, e por duas vezes salva a vida do estrangeiro. Os Tabajaras debandam, deixando Iracema triste e envergonhada.
Iracema, Martim e Poti chegam ao território Pitiguara, de onde viajam para visitar Batuirité, o avô de Poti, o qual denomina Martim Gavião Branco, fazendo, antes de morrer, a profecia da destruição de seu povo pelos brancos.
Iracema engravida e, acompanhada de Poti, pinta o corpo de Martim, que passa a ser Coatiabo, "o guerreiro pintado", que às vezes tem momentos de grande melancolia, com saudades da pátria.
Um mensageiro Pitiguara leva a Poti um recado de Jacaúna, contando sobre a aliança entre os franceses e os Tabajaras. Poti e Martim partem para a guerra; Iracema fica no litoral, em companhia de uma seta envolvida em um galho de maracujá (a lembrança). Triste, recebe a visita de Jandaia, antiga companheira e trona-se como ela, "mecejana" (a abandonada).
Martim e Poti voltam vitoriosos; Martim sente mais saudades da pátria; Iracema profetiza a própria morte que ocorrerá com o nascimento do filho. Enquanto Martim estava combatendo, Iracema teve sozinha o filho, a quem chamou de Moacir, filho da dor. Certa manhã, ao acordar, ela viu à sua frente o irmão Caubi, que, saudoso, vinha visitá-la, trazendo paz. Admirou a criança, porém surpreendeu-se com a tristeza da irmã, que pediu a ele que voltasse para junto de Araquém, velho e sozinho.
De tanto chorar, Iracema perdeu o leite para alimentar o filho. Foi à mata e deu de mamar a alguns cachorrinhos; eles lhe sugaram o peito e dele arrancaram o leite copioso para voltar a amamentar. A criança estava se nutrindo, mas a mãe perdera o apetite e as forças, por causa da tristeza.
No caminho de volta, findo o combate, Martim, ao lado de Poti, vinha apreensivo: como estaria Iracema? E o filho? Lá estava ela, à porta da cabana, no limite extremo da debilidade. Ela só teve forças para erguer o filho e apresentá-lo ao pai. Em seguida, desfaleceu e não mais se levantou da rede.
Morre Iracema. Suas últimas palavras foram o pedido ao marido de que a enterrasse ao pé do coqueiro de que ela gostava tanto. O sofrimento de Martim foi enorme, principalmente porque seu grande amor pela esposa retornara revigorado pela paternidade. O lugar onde se enterrou Iracema veio a se chamar Ceará.
Martim retornou para sua terra, Portugal, levando o filho. Não consegue permanecer lá. Quatro anos depois, eles voltaram para o Ceará, onde Martim implantou a fé cristã. Poti se tornou cristão e continuou fiel amigo de Martim. Os dois ajudaram o comandante Jerônimo de Albuquerque a vencer os tupinambás e a expulsar o branco tapuia. De vez em quando, Martim revia o local onde fora tão feliz e se doía de saudade. A jandaia permanecia cantando no coqueiro, ao pé do qual Iracema fora enterrada. Mas a ave não repetia mais o nome de Iracema. "Tudo passa sobre a terra."
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