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Quinhentismo - Literatura Informativa - 1º ano -

Quinhentismo
Quinhentismo é a denominação genérica de todas as manifestações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI, no momento em que a cultura europeia foi introduzida no país. Note que, nesse período, ainda não se trata de literatura genuinamente brasileira, a qual revele visão do homem brasileiro. Trata-se de uma literatura ocorrida no Brasil, ligada ao Brasil, mas que denota a visão, as ambições e as intenções do homem europeu mercantilista em busca de novas terras e riquezas. As manifestações ocorridas se prenderam, basicamente, à descrição da terra e do índio, ou a textos escritos pelos viajantes, jesuítas e missionários que aqui estiveram.

Literatura Informativa
Carta de Caminha inaugura o que se convencionou chamar de Literatura Informativa sobre o Brasil. Este tipo de literatura, também conhecido como literatura dos viajantes ou literatura dos cronistas, como consequência das Grandes Navegações, empenha-se em fazer um levantamento da “terra nova”, de sua floresta e fauna, de seus habitantes e costumes, que se apresentaram muito diferentes dos europeus. Daí ser uma literatura meramente descritiva e, como tal, sem grande valor literário. A principal característica da carta é a exaltação da terra, resultante do assombro do europeu diante do exotismo e da exuberância de um mundo tropical. Com relação à linguagem, o louvor à terra transparece no uso exagerado de adjetivos.
Você conhece a Carta de Pero Vaz de Caminha? Leia a seguir alguns fragmentos.

Carta a el-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil
Senhor, posto que o capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta Vossa terra nova, que se ora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta. (...)
E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de longo, até terça-feira d’oitavas de Páscoa, que foram 21 dias d’Abril, que topamos alguns sinais de terra (...) E à quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves, a que chamam fura-buchos. Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é, primeiramente d’um grande monte, mui alto e redondo, e d’outras serras mais baixas ao sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs o nome o Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz. (...)
E dali houvemos vista d’homens, que andavam pela praia, de 7 ou 8, segundo os navios pequenos disseram, por chegaram primeiro. (...) A feição deles é serem pardos, maneira d'avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousacobrir nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto. (...)
Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos, pelas espáduas; e suas vergonhas tão altas e tão çarradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha. (...)
E uma daquelas moças era toda tinta, de fundo a cima, daquela tintura, a qual, certo, era tão bem feita e tão redonda e sua vergonha, que ela não tinha, tão graciosa, que a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhes tais feições, fizera vergonha, por não terem a sua como ela. (...)
O capitão, quando eles vieram, estava assentado em uma cadeira e umaalcatifa aos pés por estrado, e bem vestido, com um colar d'ouro mui grande ao pescoço. (...) Um deles, porém, pôs olho no colar do capitão e começou d'acenar com a mão para a terra e despois para o colar, como que nos dizia que havia em terra ouro. E também viu um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e então para o castiçal, como que havia também prata. (...)
Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d'agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem! Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. (...)

capitão-mor: trata-se de Pedro Álvares Cabral.
conta: relato.
oitavas de Páscoa: semana que vai desde o domingo de Páscoa até o domingo seguinte.
horas de véspera: final da tarde.
chã: plana.
cousa: coisa.
vergonhas: órgãos sexais.
çarradinhas: alguns historiadores consideram "saradinhas", isto é, sem doenças, e outros consideram "cerradinhas", isto é, densas.
tinta: tingida.
alcatifa: tapete, que cobre ou se estende.
Entre-Douro-e-Minho: antiga província de Portugal.

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Original da Carta de Caminha
Para o leitor de hoje, a literatura informativa satisfaz a curiosidade a respeito do Brasil nos seus primeiros anos de vida, oferecendo o encanto das narrativas de viagem. Para os historiadores, os textos são fontes obrigatórias de pesquisa. Mais adiante, com o movimento modernista, esses textos foram retomados pelos escritores brasileiros, como Oswald de Andrade, como forma de denúncia da exploração a que o país sofrera desde então.

Veja os principais documentos que compõem a nossa literatura informativa:
1. Carta do descobrimento (Pero Vaz de Caminha): foi escrita no ano de 1500 e publicada pela primeira vez em 1817.
2. Tratado da terra do Brasil (Pero de Magalhães Gândavo): foi escrito por volta de 1570 e impresso pela primeira vez em 1826.
3. História da Província de Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil (Pero de Magalhães Gândavo): foi editado em 1576.
4. Diálogo sobre a conversão dos gentios (Padre Manuel da Nóbrega): foi escrito em 1557 e impresso em 1880.
5. Tratado descritivo do Brasil (Gabriel Soares de Sousa): escrito em 1587 e impresso por volta de 1839.
Literatura Jesuítica
Os impérios ibéricos continham em sua expansão uma profunda ambiguidade. Ao espírito capitalista-mercantil associavam um certo ideal religioso e salvacionista. Por essa razão, dezenas de religiosos acompanhavam as expedições a fim de converter os gentios.
Como consequência da Contrarreforma, chegam, em 1549, os primeiros jesuítas ao Brasil. Incumbidos de catequizar os índios e de instalar o ensino público no país, fundaram os primeiros colégios, que foram, durante muito tempo, a única atividade intelectual existente na colônia.
Do ponto de vista estético, os jesuítas foram responsáveis pela melhor produção literária do Quinhentismo brasileiro. Além da poesia de devoção, cultivaram o teatro de caráter pedagógico, inspirado em passagens bíblicas, e produziram documentos que informavam aos superiores na Europa o andamento dos trabalhos.
O instrumento mais utilizado para atingir os objetivos pretendidos pelos jesuítas (moralizar os costumes dos brancos colonos e catequizar os índios) foi o teatro. Para isso, os jesuítas chegaram a aprender a língua tupi, utilizando-a como veículo de expressão. Os índios não eram apenas espectadores das peças teatrais, mas também atores, dançarinos e cantores.
Os principais jesuítas responsáveis pela produção literária da época foram o padre Manuel da Nóbrega, o missionário Fernão Cardim e o padre José de Anchieta.

José de Anchieta (1534 - 1597)
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Nascido em 1534 na ilha de Tenerife, Canárias, o padre da Companhia de Jesus veio para o Brasil em 1553 e fundou, no ano seguinte, um colégio na região da então cidade de São Paulo. Faleceu na atual cidade de Anchieta, litoral do Espírito Santo, em 1597.

Conhecido como o grande piahy ("supremo pajé branco"), Anchieta deixou como legado a primeira gramática do tupi-guarani, verdadeira cartilha para o ensino da língua dos nativos (Arte da gramática da língua mais usada na costa do Brasil). Destacou-se também por suas poesias e autos, nos quais misturava a moral religiosa católica aos costumes dos indígenas.
Entre as peças de teatro da época, destaca-se o Auto de São Lourenço, escrita pelo padre José de Anchieta. Nela, o autor conta em três línguas (tupi, português e espanhol) o martírio de são Lourenço, que preferiu morrer queimado a renunciar a fé cristã. Anchieta intentou conciliar os valores católicos com os símbolos primitivos dos habitantes da terra e com aspectos da nova realidade americana. O sagrado europeu ligava-se aos mitos indígenas, sem que isso significasse contradição, pois as ideias que triunfavam nos espetáculos eram evidentemente as do padre. A liberdade formal das encenações saltava aos olhos: o teatro anchietano pressupunha o lúdico, o jogo coreográfico, a cor, o som.
A obra do padre Anchieta também merece destaque na poesia. Além de poemas didáticos, com finalidade catequética, também elaborou poemas que apenas revelavam sua necessidade de expressão. Os poemas mais conhecidos de José de Anchieta são: “Do Santíssimo Sacramento” e “A Santa Inês”. Veja, abaixo, um trecho do poema:


A Santa Inês
Cordeirinha linda,
Como folga¹ o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume² novo!
Cordeirinha santa,
De Jesus querida,
Vossa santa vida
O Diabo espanta.
Por isso vos canta
Com prazer o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.
Nossa culpa escura
Fugirá depressa,
Pois vossa cabeça
Vem com luz tão pura.
Vossa formosura
Honra é do povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.

Virginal cabeça,
Pela fé cortada,
Com vossa chegada
Já ninguém pereça; 
Vinde mui depressa
Ajudar o povo,
Pois com vossa vinda
Lhe dais lume novo.

Vós sois cordeirinha
De Jesus Formoso;
Mas o vosso Esposo
já vos fez Rainha.
Também padeirinha
Sois do vosso Povo,
pois com vossa vinda,
Lhe dais trigo novo.
¹folga: se alegra
²lume: luz

Esse poema fala do confronto entre o bem e o mal com bastante simplicidade: a chegada de Santa Inês espanta o diabo e, graças a ela, o povo revigora sua fé. A linguagem é clara, as ideias são facilmente compreensíveis e o ritmo faz com que os versos tenham musicalidade, ajudando o poeta a envolver o ouvinte e a sensibilizá-lo para sua mensagem religiosa.



OS LUSÍADAS, DE LUÍS VAZ DE CAMÕES - ANÁLISE

PictureLUÍS VAZ DE CAMÕES


      Luís Vaz de Camões (Lisboa], c. 1524 — Lisboa, 10 de junho de 1580) foi um célebre poeta de Portugal, considerado uma das maiores figuras da literatura em língua portuguesa e um dos grandes poetas do Ocidente.

       Pouco se sabe com certeza sobre a sua vida. Aparentemente nasceu em Lisboa, de uma família da pequena nobreza. Sobre a sua infância tudo é conjetura mas, ainda jovem, terá recebido uma sólida educação nos moldes clássicos, dominando o latim e conhecendo a literatura e a história antigas e modernas. Pode ter estudado na Universidade de Coimbra, ou no Porto, mas a sua passagem pela escola não é documentada. Frequentou a corte de Dom João III, iniciou a sua carreira como poeta lírico e envolveu-se, como narra a tradição, em amores com damas da nobreza e possivelmente plebeias, além de levar uma vida boémia e turbulenta. Diz-se que, por conta de um amor frustrado, se autoexilou em África, alistado como militar, onde perdeu um olho em batalha. Voltando a Portugal, feriu um servo do Paço e foi preso. Perdoado, partiu para o Oriente. Passando lá vários anos, enfrentou uma série de adversidades, foi preso várias vezes, combateu bravamente ao lado das forças portuguesas e escreveu a sua obra mais conhecida, a epopeia nacionalista Os Lusíadas. De volta à pátria, publicou Os Lusíadas e recebeu uma pequena pensão do rei Dom Sebastião pelos serviços prestados à Coroa, mas nos seus anos finais parece ter enfrentado dificuldades para se manter.

       Logo após a sua morte a sua obra lírica foi reunida na coletânea Rimas, tendo deixado também três obras de teatro cômico. Enquanto  viveu queixou-se várias vezes de alegadas injustiças que sofrera, e da escassa atenção que a sua obra recebia, mas pouco depois de falecer a sua poesia começou a ser reconhecida como valiosa e de alto padrão estético por vários nomes importantes da literatura europeia, ganhando prestígio sempre crescente entre o público e os conhecedores e influenciando gerações de poetas em vários países. Camões foi um renovador da língua portuguesa e fixou-lhe um duradouro cânone; tornou-se um dos mais fortes símbolos de identidade da sua pátria e é uma referência para toda a comunidade lusófona internacional. Hoje a sua fama está solidamente estabelecida e é considerado um dos grandes vultos literários da tradição ocidental, sendo traduzido para várias línguas e tornando-se objeto de uma vasta quantidade de estudos críticos.

"OS LUSÍADAS"


              Publicado em 1572 sob a proteção do Rei D. Sebastião, o poema épico Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, tem como assunto central a viagem de Vasco da Gama às Índias (1497 - 1498). As perigosas viagens por mares nunca dantes navegados, o contacto com povos e costumes diferentes, a exaltação do homem-herói (navegador, soldado, aventureiro, cavaleiro e amante) encontram, na euforia antropocêntrica do Renascimento, um instante oportuno para o sentimento heroico e conquistador, não apenas dos portugueses, mas de toda Europa quinhentista.

          Obra de cunho enciclopédico, o poema narra, além da descoberta do caminho marítimo para as Índias, as grandes navegações portuguesas, a conquista do Império Português do Oriente e toda a história de Portugal, seus reis, seus heróis e as batalhas que venceram. Paralelamente a essa dupla ação histórica (a viagem de Vasco da Gama e a história de Portugal), desenvolve-se uma importantíssima ação mitológica: a luta que travam os deuses olímpicos (o"maravilhoso pagão"), contrapondo Vénus e Marte (favoráveis aos lusos) a Baco e  Neptuno (contrários às navegações).

 Os Lusíadas fundem harmoniosamente os ideais renascentistas, imperialistas e nacionalista de expansão do Império, com a ideologia medieval, feudal e conservadoras; a mitologia pagã com o ideal cristão; o tom épico na exaltação dos feitos dos navegadores e guerreiros e o tom lírico do amor trágico de Inês da Castro; a objetividade e a subjetividade; o ufanismo e o espírito crítico; o espírito clássico com acentos maneiristas e antecipação barroca.

ESTRUTURA EXTERNA - O Poema divide-se em 10 cantos. Cada canto contém em média 100 estrofes ou estâncias. O canto III é o mais curto, com 87 estrofes; o canto X é o mais longo, com 156 estrofes. O poema todo compõe-se de 1.102 estrofes ou estâncias. Cada uma delas contém regularmente 8 versos (oitavas). O poema totaliza 8.816 versos, decassílabos (medida nova), predominando os decassílabos heroicos, com a 6ª e a 10ª sílabas tônicas. Há também alguns decassílabos sáficos, com a 4ª, a 8ª e a 10ª sílabas tônicas.

Tipos de narrador: - existem dois narradores no poema: O eu épico, Camões fala através dele, e o outro, Vasco da Gama, que é quem dá conta de toda a História de Portugal.


Os Lusíadas são o maior poema da língua portuguesa e a maior expressão de sua excelência literária. Camões soube elaborar uma linguagem suficientemente rica e maleável, elegante e sonora, com que exprimiu tanto os feitos heroicos e altissonantes, como as dolorosas súplicas de Inês de Castro diante de seus algozes ou o desconsolo do eu-poemático diante do "desconcerto do mundo" e da decadência de seu país.

ESTRUTURA INTERNA
Os Lusíadas tem quatro partes, como a tradição clássica impõe a uma epopeia:

 1 - Proposição - É a apresentação do poema, a síntese do assunto. Ocupa as três primeiras estrofes. Evidencia algumas características fundamentais da obra: o caráter coletivo do herói, a valorização do homem (antropocentrismo), a sobrevivência do "ideal cruzada", a valorização da Antiguidade clássica, o nacionalismo (ufanismo), sintaxe rica e complexa.

 2 - Invocação das Tágides - É o pedido de inspiração às musas. Camões elege como suas inspiradoras as Tágides, ninfas do rio Tejo, "nacionalizando" suas musas.

 3 - Dedicatória ao Rei D. Sebastião - É como menino ainda, como dádiva de Deus, que Camões apresenta D. Sebastião na dedicatória. O jovem rei assumiu o trono aos 14 anos, em 1568, e como a redação do poema consumiu mais de 12 anos, Camões não deixa de observar que ele é "novo no ofício" e disso abusam seus conselheiros. O facto do jovem rei ser exaltado como símbolo e esperança da pátria, não impede de o poeta critique as intrigas palacianas e a ambição de mando e de riqueza dos jesuítas e seus aliados.

 4 - Narração - A narração de Os Lusíadas compreende três ações principais: a viagem de Vasco da Gama às Índias, a narrativa da história de Portugal e as lutas e intervenções dos deuses do Olimpo. São, portanto, duas ações: uma histórica e uma ação mitológica que se alternam e se interpenetram no poema. A narrativa começa já no meio da aventura do herói, quando Vasco da Gama e os navegadores estão em pleno Oceano Índico, na costa leste da África, próximo ao Canal de Moçambique. A narrativa histórica termina com a partida de Calecute. Camões não narra o regresso a Lisboa. Os acontecimentos anteriores são relatados por discursos  dos protagonistas humanos (Vasco da Gama e seu irmão Paulo da Gama), e os acontecimentos futuros são anunciados por deuses  ou outras personagens com o dom da profecia. Nessa profusão de episódios históricos, mitológicos, proféticos, simbólicos, líricos, guerreiros e romanescos, Camões entremeia descrições de fenômenos naturais (a tromba marítima, o fogo-de-anselmo. etc) e frequentes dissertações poéticas sobre a moral, sobre a desconsideração de seus contemporâneos pela poesia, sobre o verdadeiro valor da glória, sobre a omnipotência do ouro e da riqueza e sobre o destino de Portugal. É uma verdadeira enciclopédia de Portugal e do homem renascentista.

5 - Epílogo - que contém as lamentações e críticas do poeta, suas exortações ao Rei D. Sebastião e os vaticínios sobre as futuras glórias portuguesas. São as doze últimas estrofes do poema. Contrastando com o tom vibrante e ufanista do início, o tom agora é de pessimismo, desencanto e de crítica à decadência do país e aos portugueses de seu tempo, esquecidos dos valores nacionais. É uma clara premonição da derrocada de Portugal, submetido em 1580 ao domínio espanhol, e da retratação do Império do Oriente. Há ainda o sentido de desabafo de Camões, que se queixa da incompreensão e das privações pelas quais parece ter passado em seus últimos anos de vida.


ENREDO DOS CANTOS

Canto I e II - Após as partes introdutórias e a rápida apresentação dos navegadores em pleno Oceano Índico,  narra-se o Consílio dos Deuses no Olimpo. Convocados por Júpiter, os deuses irão deliberar sobre o destino dos novos argonautas. Baco é contrário aos portugueses, pois teme que eles superem seus feitos no Oriente. Vénus, e depois Marte, toma a defesa dos lusos. Júpiter encerra o consílio, decidindo a favor das navegadores. Baco, inconformado, resolve agir. Assumindo a formas humana de um velho sábio, instiga o governador de Moçambique contra os portugueses, põe a bordo da esquadra um traidor, falso piloto, arma ciladas em Quiloa e Mombaça. Graças às intervenções de Vénus, das nereidas, de Mercúrio e à coragem e astúcia de Vasco da Gama, os portugueses chegam a Melinde, terra de muçulmanos que, por obra de Mercúrio, enviado por Júpiter, a pedido de Vénus, tinham se tornado simpáticos aos portugueses. Durante os perigos e provações, o capitão roga a proteção da Providência Divina e agradece por ela ao Deus cristão, mas quem atende às suas preces é Vénus, divindade pagã, meiga e sedutora, deusa do amor, que convence Júpiter a ajudar seus protegidos. Paganismo e cristianismo juntos, sem qualquer constrangimento.

 Nota: Essa ação mitológica, a disputa entre Vénus e Baco, tem o propósito de elevar os navegadores à condição de semi-deuses. Numa clara alegoria, os  portugueses, senhores do amor e da guerra, protegidos por Vénus e Marte,  triunfam sobre os oceanos (Neptuno) e sobre seus adversários no Oriente (Baco).


Canto III - Após Camões invocar a inspiração de Calíope, musa grega da poesia épica, Vasco da Gama começa a contar ao rei Melinde a história de Portugal. Principia pela localização geográfica do país no mapa da Europa: “Eis aqui quase cume da cabeça / De Europa toda, o Reino Lusitano / Onde a terra se acaba e o mar começa / E onde Febo repousa no Oceano” (Lus., III. 20). Fala das origens de Portugal, do primeiro herói, Viriato, o Pastor da Serra da Estrela, que resistiu à dominação romana. Na Guerra de Reconquista, que os povos já cristianizados moveram contra árabes invasores, no século XII, surge o Reino de Portugal e a Primeira Dinastia, a Casa de Borgonha. O terceiro canto contém a história de todos os reis dessa dinastia, destacando-se seu fundador, Afonso Henriques de Borgonha. vencedor da Batalha de Ourique, contra os árabes, ao lado de Egas Moniz, símbolo nacional de lealdade e honradez. Ainda sob a Dinastia de Borgonha, no reinado de D. Afonso IV, ocorre o episódio de Inês de Castro, aquela“ que depois de ser morta foi rainha".


Canto IV - Vasco da Gama prossegue a narrativa da história de Portugal, concentrando-se na Segunda Dinastia, a Casa de Avis. Fala da Revolução de Avis (1383 - 1385), de seu grande herói, D. Nuno Álvares Pereira, da Batalha de Aljubarrota e de D. João I, Mestre de Avis, que funda o Estado Nacional Português, consolida a centralização monárquica e inicia a expansão ultramarina, com a Tomada de Ceuta, em 1415. A partir do reinado de D. Manuel I, o Venturoso, Vasco da Gama começa a narrar os episódios preliminares de sua viagem. D. Manuel tivera um sonho profético: os rios Indo e Canges, sob forma de dois anciões, profetizam os sucessos e perigos que os portugueses enfrentariam no Oriente. Estimulado por esse sonho, D, Manuel I pede a Vasco da Gama que monte uma esquadra para concretizar a profecia. Na partida das naus da praia de Belém, um ancião, o Velho do Restelo, faz uma enfática advertência contra as navegações portuguesas.


Canto V - Vasco da Gama conclui a narrativa de sua viagem até Melinde. Fala da partida da esquadra, do Cruzeiro do Sul, descreve o fogo-de-santelmo, depois uma tromba marítima na costa da Guiné, e a aventura cómica de Veloso. Perto da  África do Sul, na travessia do Cabo das Tormentas, os portugueses defrontam-se com o Gigante Adamastor, monstro disforme que simboliza a superação do medo do “Mar Tenebroso” e o domínio do homem sobre as crendices medievais e sobre a natureza. De volta a Melinde, Vasco da Gama conclui o seu relato elogiando a tenacidade portuguesa. Encenando a primeira parte da epopeia, Camões retoma a palavra para lamentar o descaso dos portugueses pela poesia.

 Canto VI - Enquanto os portugueses rumam em direção às Índias, Baco desce ao palácio de Neptuno e incita os deuses marinhos contra a esquadra de Vasco da Gama. Novamente Vénus e as nereidas salvam os navegadores. A bordo da nau capitânia, o marinheiro Veloso entretém seus companheiros com a narrativa cavaleiresca de Os Doze de Inglaterra: doze portugueses, liderados pelo Magriço, vão à Inglaterra resgatar a honra de doze donzelas inglesas ultrajadas por doze cavaleiros bretões. Os navegadores avistam Calecute, e o narrador medita sobre o sentido e valor da glória.

 Canto VII e VIII - Vasco da Gama faz contato com as autoridades de Calecute. O samorim (= rei) determina ao catual (= governador) que receba os navegadores. Vasco da Gama desembarca na Índia, visita o samorim e oferece a amizade dos portugueses, em nome de D. Manuel. O catual colhe informações sobre os recém-chegados e, em visita à esquadra, indaga Paulo da Gama acerca do significado das figuras desenhadas nas bandeiras lusas. O irmão do comandante assume a narrativa e conta os feitos dos heróis da pátria (Viriato, D. Afonso Henriques, Egas Moniz, D. Nuno Álvares e outros). Os muçulmanos tramam contra os cristãos portugueses e envenenam as boas relações com o samorim. Novas ciladas. Vasco da Gama é feito prisioneiro. Negocia com o catual sua liberdade, em troca de mercadorias europeias. O poeta encerra o oitavo canto com dissertação sobre o poder do dinheiro.

 Canto IX e X - Ainda em Melinde, na partida das naus, dois feitores portugueses que vendiam mercadorias em Calecute são retidos em terra para retardar a partida das naus e permitir que fossem alcançadas e destruídas por uma esquadra muçulmana. Em represália, Vasco da Gama retém a bordo vários mercadores indianos. Trocam-se os feitores portugueses pelos mercadores orientais, o samorim manda devolver as fazendas que os portugueses pagaram como resgate pelo capitão, e os navegadores, cumprida sua missão, iniciam a viagem de regresso a Lisboa. Os historiadores registam ter sido uma viagem acidentada, mas Camões encerra aqui a matéria propriamente histórica do poema. O longo episódio da Ilha dos Amores pertence já ao plano mitológico, fantástico. É o congraçamento entre os homens e os deuses, a elevação dos navegadores à esfera da imortalidade.
 Vênus decide premiar os navegadores e, numa ilha paradisíaca, reúne as nereidas (ninfas marinhas), feridas por Cupido com suas setas, para que ardam de amor pelos portugueses. Estes, deslumbrados com o espetáculo divino, passam a perseguir as ninfas que se deixam alcançar e se entregam, entre gritinhos de prazer. É a mais clara manifestação do pan-erotismo, da ideia de que não há pecado sexual.

Oh! Que famintos beijos na floresta,
E que mimoso choro que soava!
Que afagos tão suaves, que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava!
O que mais passam na manhã e na sesta,
Que Vênus com prazeres inflamava,
Melhor é exp’rimentá-lo que julgá-lo;
Mas julgue-o quem não pode exp’rimentá-lo.
(Lus., IX, 83)


Após um banquete oferecido por Tétis e pelas ninfas, uma delas, Sirena (ou sereia), anuncia as futuras conquistas portuguesas. Tétis conduz Vasco da Gama a uma elevação e mostra a ele a Máquina do Mundo, réplica em miniatura do sistema solar, segundo a teoria geocêntrica de Ptolomeu, e que somente os deuses podiam contemplar. Descobrindo o orbe terrestre, Tétis aponta os lugares onde os portugueses ainda se farão presentes. Aí, sem que se dê particular importância, fala-se do Descobrimento do Brasil.

Mas cá onde mais se alarga, ali tereis
Parte também, com pau vermelho nota;
De Santa Cruz o nome lhe poreis;
Descobri-la-á a primeira vossa frota.
(Lus.. X, 140)

Na estrofe 144 do 10º canto, os portugueses estão de volta a Lisboa. Segue-se o epílogo do poema.

 Nota: A obra Os Lusíadas passaram pela censura inquisitorial, desafiando o espírito da Contrarreforma, as convenções moralistas e repressoras da corte, orientada pelos jesuítas. A publicação deveu-se ao empenho de alguns admiradores de Camões: D. Manuel de Portugal, Dona Francisca de Aragão (amiga íntima da Rainha), os dominicanos, a quem não deviam desagradar as críticas do poema aos jesuítas. O censor da obra, o frei dominicano Bartolomeu Ferreira, não só aprovou a obra como também a elogiou.
http://profpaulo.weebly.com/os-lusiacuteadas.html

PARADIGMAS DAS CONJUGAÇÕES DOS VERBOS REGULARES

Escola Cel. Aluízio Pinheiro Ferreira
PARADIGMAS DAS CONJUGAÇÕES DOS VERBOS REGULARES


MODO INDICATIVO

PRESENTE
PRETÉRITO IMPERFEITO
PRETÉRITO PERFEITO
PRETÉRITO
MAIS QUE PERFEITO
FUTURO DO PRESENTE
FUTURO DO PRETÉRITO
1ª conjugação
CANTAR


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2ª conjugação
VENDER

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3
4
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Ø
Ø
Ø
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1
2
3
4
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2
3
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1
2
3
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3ª conjugação
PARTIR

1
2
3
4
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Ø
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Ø
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2
3
4
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2
3
4
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Ø
Ø
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2
3
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4
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ríe
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Ø
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Ø
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m





MODO SUBJUNTIVO

MODO IMPERATIVO
FORMAS NOMINAIS
PRESENTE
PRETÉRITO IMPERFEITO
FUTURO
AFIRMATIVE
NEGATIVE
INFINITIVO PESSOAL
INFINITIVO IMPESSOAL
1ª conjugação
CANTAR
Que eu...
1
2
3
4
cant
cant
cant
cant
cant
cant
Ø
Ø
Ø
Ø
Ø
Ø
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Ø
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Ø
mos
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Se eu…
1
2
3
4
cant
cant
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sse
sse
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Ø
mos
ís
m
Quando eu..
1
2
3
4
cant
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1
2
3
4
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1
2
3
4
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-
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Ø
Ø
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1
2
3
4
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cant
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1
2
3
cant

vend

part 
a

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2ª conjugação
VENDER

1
2
3
4
vend
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vend
vend
Ø
Ø
Ø
Ø
Ø
Ø
a
a
a
a
a
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1
2
3
4
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sse
sse
sse
sse
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1
2
3
4
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1
2
3
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1
2
3
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não 
-
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Ø
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1
2
3
4
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Gerúndio
1
2
3
cant

vend

part 
a

e

i
ndo

ndo

ndo
3ª conjugação
PARTIR

1
2
3
4
part
part
part
part
part
part

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Ø
Ø
Ø
Ø
Ø
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1
2
3
4
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1
2
3
4
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1
2
3
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1
2
3
4
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não part
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Ø
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1
2
3
4
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Particípio
1
2
3
cant

vend

part 
a

i

i
do

do

do